
O jornalista e publicitário Rogério Bonato escreveu uma homenagem ao pioneiro Antônio Savaris, a qual o Não Viu? transcreve abaixo.
Antonio Savaris
Certa ocasião fiquei muito impressionado com um livro, depois li outros, cujo assunto seria a morte. Elisabeth Kübler-Ross descreve em “Sobre a morte e o morrer, experiências de pacientes terminais, suas agonias e frustrações; ela narra uma aproximação para ajudar essas pessoas em seus últimos momentos. É um clássico e muito bem traduzido. Em uma dessas leituras, uma ficção, versa a descoberta científica de que há vida, após a morte. O título inclusive inspirou o cinema.
Mas não me lembro bem a época, porém recordo que tratei disso com várias pessoas, nesse discernimento da espiritualidade. Com o professor Valdo Vieira, o assunto foi muito aprofundado. Já com o advogado José Bento Vidal, foi muito consternador. Ele perguntou, sabendo o que enfrentaria: “o que você acredita que vá acontecer?”. É o tipo de pergunta que nos invade em pensamentos, afinal, somos doutrinados ao longo da vida sobre a existência de Deus, Céu, inferno, como nos trouxe Dante, em A Divina Comédia. São em verdade, escritos paradoxais, cada um nos leva a uma forma de pensar. Cheguei a crer que a morte, é o eterno, o simples apagar que atravessa milênios. Piamente pensei, que morrer, seria o caminho ao nada.
Pensei, só pensei, até conversar com o “seo” Antônio Savaris. Fui até ele e com certo cuidado, abordei o assunto, mais em tom de curiosidade. Ele ouviu muito atentamente. Também pensou, olhou para o lado, depois para baixo e disse: “meu caro, cheguei aos 90 e quero passar dos 100, mas isso não é um apego, é agradecimento, por que viver é um ato de agradecer. Imagina o que eu já vi e já passei nesta vida, as minhas alegrias, decepções, aborrecimentos, as minhas tristezas, despedidas. Só poderia saber disso, simplesmente vivendo. Viver, é possivelmente o molde do espírito, uma preparação onde deixamos para trás, aquilo que não nos é útil; é quando nos despimos das inutilidades humanas”.
Procurei o Savaris, porque considerei que teria sapiência; não sabia que era espírita, ou que moldaria um assunto assim tão delicado, em minha cabeça, com palavras tão generosas e seguras.
Ao saber de sua partida, imaginei a leveza de sua alma, porque o ato de despi-la das inconveniências e o que não lhe servia, deve ter sido um processo muito cuidadoso de avaliação e, por que não, uma dedicada revisão do seu relicário, também convencionado como vida. Viver 96 anos, agradecendo cada segundo, deve possuir uma importância singular e ao mesmo tempo ímpar, de tratar a alma, convertendo-a em espírito, porque são coisas diferentes. Alma é quando levamos tudo, espírito é quando nos tornamos o essencial.
Bom, aqui ficamos tentando nos livrar daquilo que não nos serve; uns o fazem como arrancar o chiclete do sapado. Outros são mais cuidados. Por isso, aqui vão todas as minhas reverências ao grande Antoninho Savaris, e os mais sinceros votos de sentimento e pesar aos seus familiares.
Rogério Romano Bonato.