Viagem de metrô
*Por Carlos Galetti
Cada situação que a gente passa. Quando saí do comando do batalhão, ainda tinha um ano e seis meses para ficar na ativa, antes de solicitar a reserva.
Esse um ano e meio resolvi ir para o Rio de Janeiro, posto que, já decidido por morar em Foz, havia vários assuntos pendentes para resolver. Fiquei na casa do meu sogro, onde tinha toda a guarita, enquanto meus filhos ficaram morando no apartamento que comprara na nossa cidade.
Minha mulher fazia ponte aérea Rio/Foz, enquanto eu sacudia no metrô do Rio todos os dias para ir trabalhar no centro da cidade do Rio de Janeiro. Sobre esta aventura das viagens no metrô é que quero me ater.
Primeiro, é preciso que se explique que o metrô está cheio das 0500hs às 1000hs, não havendo arrego para quem tem que ir trabalhar no centro, na parte da manhã, no horário comercial. “Não tem xixi minha nega, vem cá meu bem, vais entrar numa podre”.
A primeira situação é entrar na composição, pois o trem vem tomado até o talo, quem olha nem imagina que tem algum espaço para mais um. Ocorre que tem técnica, o grupo que quer entrar toma distância e parte para a carga, atropelando e abrindo caminho à fórceps, isso mesmo, pode acreditar.
Depois que entrou, pode-se dizer que começa o tormento. Primeiro, que não dá pra segurar, todos os ferros estão ocupados, restando tão somente o teto que, por ser bem baixo, até baixinho como eu tem condições de apoiar. Mas nem precisa segurar, pois não dá pra cair, você passou a ser uma ilha cercado de pessoas por todos os lados.
Deixe esclarecer que a carteira tem que ir dentro da cueca, na frente, única posição estratégica para seu transporte. Lá um dia senti que havia alguma mão apalpando a minha bunda, notei que procurava a minha carteira, pois outro motivo nem pensar.
Tentei baixar minha mão, mas não conseguia, porque esta estava me apoiando no teto, sendo impossível baixa-la, já que não havia espaço para fazê-lo. Fiquei atento para a mão não procurar a parte da frente, onde estava a minha carteira, felizmente o punguista não tentou encarar a situação.
Cercado de pessoas estranhas, evita-se encarar as pessoas, o pior que pode acontecer é tampar uma briga ali dentro. Para evitar embates, seguia ouvindo meu rádio com o fone de ouvido, viajando numa nave espacial, fora do aperto ali existente, numa confortável poltrona de primeira classe. Tudo na imaginação.
O metrô seguia sucedendo as estações que eram anunciadas antes de cada parada. Quando falava Central do Brasil era a minha, hora de soltar, outro sacrifício. Muita gente pra soltar, como na subida, entre no fluxo e siga em frente, rezando pra não cair no vão entre a composição e a plataforma.
Pronto chegamos, agora é ir para o trabalho que fica ao lado. Outro sofrimento somente de tarde para voltar. Mas aí é outra história, você pode ficar até mais tarde e pegar o metrô mais vazio. Ainda pode tomar um chope pra fazer hora. Amarelinho aqui vamos nós… A única preocupação é não perder o último metrô, às 2300hs.
Obs.: Amarelinho é uma excelente opção de bar na Cinelândia. Vamos molhar a palavra.
Fuuuui!
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.