Tragédia
Por Carlos Galetti
Havia ido à Secretaria da Fazenda, tinha problemas com o IPTU. Tudo resolvido, saio pela JK, pois deixara o carro na Jorge Sanways. Estacionar em Foz já foi fácil.
Observo uma aglomeração enquanto desço a rua, carros de bombeiros, carros de polícia e muitas pessoas. Dentro em pouco estou em meio àqueles viventes, também observando a tragédia.
Tudo se resumia ao fato de que havia um homem no parapeito da última sacada, na cobertura, num prédio de 20 andares, ameaçando jogar-se. Para maior grau de complexidade, dizia que teria colocado explosivos na porta do seu apartamento, o suficiente para explodir todo o prédio.
Começam as tratativas, negociador de ambas as forças, primeiro a discussão sobre de quem é a competência. Pior que ambos os negociadores, tanto da polícia como do bombeiro, tinham os mesmos cursos, alguns que até fizeram juntos. Tiraram no par ou ímpar, ganhou o bombeiro.
Agora às negociações o “saltitante”, digo o suicida, teria que ser vencido pelo cansaço. Enquanto a negociação corria solta, no prédio vizinho, mais alto que o prédio do candidato a voador, preparava-se estratégia de intervenção.
A ideia consistia em criar um pêndulo humano, que seria um homem numa corda, que seria balançado até o prédio vizinho, agarrando-se ao suicida, imobilizando-o, desde que desse tudo certo. Felizmente se desistiu da ideia.
Enquanto isso aqui em baixo o que se ouvia era o seguinte:
– Tenho compromisso, pule ou desista, dizia um.
– Não saio daqui sem ver esse cara pular, quero emoção, dizia outro.
– Somente uma senhora rezava, até com certo fervor.
Pensei o que é o ser humano, quer ver a desgraça, mas não ora pelo bem desenrolar das coisas.
Observo a multidão, só o que lhes importa é o sensacionalismo do momento. No seu egoísmo e hipocrisia, jamais perguntaram o que levou aquele infeliz a querer atentar contra a vida.
O infeliz abre a porta para o negociador, sabe-se lá sob que argumentos. Estava terminado o impasse. As forças invadem o apartamento, a segurança é controlada, a missão fora cumprida.
As pessoas começam a retirar-se, na sua maioria decepcionada, preferiam que o homem estivesse ensanguentado na calçada, satisfariam seu desejo de sangue e desgraça.
A senhora ainda reza, agora agradece.
O homem é encaminhado para o hospital, acompanham-no seus parentes.
O silêncio voltou ao local, só cortado pelo trânsito que voltou a fluir. A noite cai, até os repórteres se retiram com seus furos. Tudo volta ao normal.
Será que volta?
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.