O Meneguim Poca Volla
(Expressão que indica pessoa de pouca querência ou, no carioquês, quase parando)
*Por Carlos Galetti
Quando perdi minha mãe, aos sete anos de idade, fui morar com meu pai, e minha irmã, por ser mulher, passou a viver com minha avó e minhas tias.
Eu e meu pai sublocamos um quarto na casa do meu tio, um centro espírita de umbanda, mudando depois, para uma casa só nossa, pois meu tio mudara para bairro mais distante.
O nosso novo vizinho era motorista de carro fúnebre, fazendo o translado de defuntos para o cemitério, na minha meninice imaginei que fora selecionado para a função, tendo em vista ser muito parecido com seus clientes.
Depois entendi ser pela carência em sua casa, eram sete filhos, ele e a mulher. Ganhava pouco, os filhos eram pequenos, ainda fora da fase de cooperar com as despesas.
Lembro que vi dividirem uma fritada de dois ovos pelos nove, acrescentando a cada prato um pouco de arroz. Eram todos deficientes sanitariamente, magros, chupados, todos andavam devagar, igual ao pai.
Nós, pela nossa condição, convivíamos com essas situações de pobreza, ajudávamos no que podíamos, e aprendíamos muito com tudo aquilo. Tínhamos o que vestir, comer e morar, o que era o essencial.
Meu pai comprou uma televisão, coisa rara nos idos de 62, que alguns anos depois pegou fogo num tal de “fraybeck”, vindo a explodir quando meu pai tacou água, mas isso é outra história.
Todos vinham em casa assistir à televisão, chegando a reunir-se 20 pessoas em uma sala pequena, pois a casa era quarto, sala, cozinha e banheiro. Algumas pessoas ficavam lá fora e outras se espalhavam pelas portas e janelas.
O espetáculo do momento era a novela “Tereza”, com a atriz Geórgia Gomide, da falecida TV Tupi, a história de uma mulher muito má, que fazia todos sofrerem, sendo odiada por todos na novela, mais ainda pelas pessoas que assistiam lá em casa.
Final da novela, a vilã sofre e morre ao final. Terminada a última cena, todos se levantam e alguém grita que o Meneguim estaria desmaiado. Aí começou nova novela, como fazer o sujeito voltar a si? Sacode, abre roupa para aliviar, afrouxa cinto e nada.
Alguém diz, dá alguma coisa forte pra ele cheirar, e vem uma sucessão de sugestões e execuções, até que um amigo do meu pai diz que está com seu sapato desde às sete horas da manhã, eram oito da noite. O sujeito tirou o sapato e encheu a sala de chulé.
Meu pai vendo quase o Meneguim no carro fúnebre como passageiro, mandou colocar o sapato no lixo. Aí veio a salvação, uma velha portuguesa, sogra do Português, senhorio da nossa casa, trouxe amônia e acordou o, nem tão belo, adormecido.
Tem é história, depois conto mais.
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.