A Itaipu Binacional chega aos 47 anos, nesta segunda-feira (17 de maio), com orgulho de sua história e com olhar para um futuro não tão distante: o ano de 2023. Na ocasião, será revisto o Anexo C, que estabelece as bases financeiras e de prestação de serviços de eletricidade, no Tratado de Itaipu.
Para resgatar um pouco dessa história, o Não Viu? reproduz abaixo o texto de uma reportagem publicada na edição n° 106, de maio de 1998, do Jornal de Itaipu, que conta a aventura da expedição do engenheiro Corrado Piassentin.
Vejam no texto como essa expedição contribuiu para a escolha do local onde a usina foi construída.
Os caçadores da pedra que canta

O trabalho de campo em Itaipu, desde o início da construção da usina, está cheio de histórias fantásticas.
Algumas, como a do engenheiro hidráulico Corrado Piassentin, chegam perto das façanhas do personagem do diretor de cinema Steven Spielberg, o arqueólogo Indiana Jones.
Piassentin fez parte do grupo do consórcio ítalo-americano Ieco-Elc, responsável pelo projeto da hidrelétrica, e foi um dos primeiros desbravadores da região, embrenhando-se pela mata em busca de jazidas de areia e cascalho em quantidade suficientes para construir a usina.
Corrado nasceu na Itália. Formou-se em engenharia hidráulica pela Universidade de Pádua, em 1968, e logo depois foi trabalhar na Etiópia. Nesse país, passou por um dos maiores sustos de sua vida. Foi raptado por um etíope, que pretendia exigir um resgate.
“Mas eu não valia muito e, com a ajuda do motorista da empresa em que trabalhava, fui libertado”, conta o italiano, divertindo-se.
Depois do susto, veio para o Brasil. Trabalhou um ano no Rio Grande do Sul e em 1971 foi contratado pela Ieco-Elc para participar do estudo de viabilidade da usina, a pedido do Comitê Brasileiro-Paraguaio que analisava o aproveitamento hidráulico do Rio Paraná.
No começo, o trabalho de campo em busca dos aglomerados (areia e cascalho) foi relativamente fácil.
Tapuyetê
Corrado lembra que esse trabalho foi feito desde Guaíra até Foz do Iguaçu. Nesse trecho, as pesquisas de campo apontaram 50 locais onde a barragem poderia ser construída. “Dos 50 locais, foram escolhidos dois: Itaipu e Santa Maria, que ficava nas proximidades de Porto Mendes”, diz. “Itaipu era uma pequena ilha de pedra, também conhecida como Tapuyetê”.
A ilha foi escolhida porque tinha a configuração mais favorável em termos de topografia e geologia. Por essa época, Corrado foi designado, junto com o geólogo italiano Luigi Miraglia, para descobrir fontes de cascalho e areia no Rio Carapá, um afluente da margem direita do Rio Paraná.
Junto com um guia, chamado Almiron, eles começaram a expedição subindo o rio por terra até onde as estradas da época permitiam. Chegaram a uns 70 quilômetros de distância do Rio Paraná, colocaram mantimentos num pequeno barco a remo e se lançaram rio abaixo para localizar novas jazidas de aglomerados, sem levar qualquer tipo de equipamento de comunicação.
Porém, como nos tempos dos exploradores, não esqueceram revólveres e espingarda.
Perdidos no mato
As únicas informações que tinham sobre o Rio Carapá eram fotografias aéreas. “As fotos mostravam que havia poucas cachoeiras, mas a realidade era bem diferente e isso atrasou a viagem”, diz Corrado. Eles começaram a encontrar cachoeiras muito próximas umas das outras, em distâncias que variavam entre 5 e 10 quilômetros. “Toda vez que encontrávamos uma queda, tínhamos de aportar, abrir uma picada e carregar o barco até a parte de baixo da cachoeira”, conta.
Por causa desse transtorno, a expedição, prevista para ter[1]minar em 10 dias, demorou mais de um mês.
Depois do décimo dia, os colegas da empresa, em Foz, começaram a se preocupar. Um avião foi enviado para fazer um reconhecimento do local.
“Nós víamos o aviãozinho passar, mas era só. Não podíamos fazer nada, a não ser remar mais rápido para chegar logo. O piloto não podia nos ver por causa da mata muito fechada “.
Fome e mosquitos
Os mantimentos foram acabando e eles passaram a caçar aves e pescar. Comiam, basicamente, farinha de mandioca e amendoim. Corrado conta que sobrava pouco tempo para caçar ou pescar, porque eles não queriam perder tempo.
Todas as noites tinham que montar o acampamento. As redes de dormir ficavam suspensas em troncos de árvores para evitar cobras e outros bichos. “Pior do que os acampamentos, eram as raras cabanas de caçadores que encontrávamos pelos caminhos. Estavam infestadas de pulgas e carrapatos. Não dava para ficar”, recorda.
Durante todo o tempo, os três tiveram que lutar bravamente contra os mosquitos e borrachudos que atacavam ao entardecer.
Festa do palmito
No dia em que eles chegaram ao Rio Paraná, estavam alguns quilos mais magros. A primeira coisa que viram foi uma fábrica de beneficiamento de palmito. Ali se refestelaram. “Nunca comi tanto palmito na minha vida”, diz Corrado.
Como acontece em filme de Hollywood, a aventura terminou em happyend: os dois chegaram são e salvos. “Os cole[1]gas nos contaram que nessa região do Rio Carapá existiam índios da tribo Guayaki, que tinham fama de ser canibais. Felizmente, não vimos nenhum deles”, ri o desbravador.
Graças aos dados levantados por expedições como essas, foi possível definir o local mais apropriado para a construção da maior hidrelétrica do mundo. Hoje, Piassentin deixou o trabalho de campo. Mora no Rio de Janeiro e, pela sua experiência, está prestando consultoria para Itaipu por intermédio da Ieco-Elc.
“Sou o último dos moicanos”, afirma
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