
Já está com a Polícia Civil a “tarefa” de investigar o autor da mensagem que acusa a Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu de disseminar “coisas totalmente contrárias à palavra de Deus e aos valores morais”, como diz trecho do texto que circula via WhatsApp, conclamando as mães a boicotar o evento.
O secretário municipal de Educação de Foz do Iguaçu, Fernando Ferreira Lima, acompanhado do diretor presidente da Fundação Cultural, Juca Rodrigues, registrou Boletim de Ocorrência sobre a mensagem. “É um crime cibernético”, lembra Juca, que pode ser punido tanto por quem criou a mensagem como por quem a compartilha.
Juca Rodrigues diz que não sabe quem é o autor, mas que a polícia conseguirá elucidar o caso.
Pelo teor da mensagem e pelos recursos utilizados, já dá para se ter uma ideia da lista de suspeitos.
Boicote
A mensagem diz que, na feira, “está sendo disseminada a ideologia de gênero e a educação sexual abertamente pra quem quiser ouvir”, que “estão propagando uma ideologia de que Deus não existe e sim ‘energias’ ou o culto a qualquer coisa” e que “palestrantes vestidos de criança, palhaço ou bonequinha” falam de coisas totalmente contrárias à Palavra de Deus e aos valores morais”.
O texto prossegue dizendo que “essas oficinas e palestras estão sendo feitas por pessoas da Conscienciologia, Direitos Humanos (que são 99% ligados a essa cultura desastrosa que atingiu o Brasil)” e conclama as mães a que não levem seus filhos à escola no dia em que estiver programada visita à feira.
A resposta
Ontem, 19, a Prefeitura de Foz divulgou nota sobre o assunto, assinada pelo secretário de Educação, dizendo ser “lamentável que ainda nos dias atuais tenhamos que nos deparar com tamanha demonstração de intolerância, ignorância e estupidez, disfarçados de discurso religioso”.
O ambiente da Feira do Livro, que chega este ano à sua 14ª edição, “sempre foi um espaço de acolhimento e pluralidade. É contagiante visitar oficinas e perceber o engajamento dos servidores e voluntários da Fundação Cultural, da Secretaria Municipal da Educação, do SESC, das Universidades e demais entidades parceiras, tudo isso pensado e realizado para proporcionar a melhor experiência aos visitantes, oportunizando convivência, exposição cultural e conhecimento”.
“Não é a primeira vez”
Segue a nota do secretário Fernando Lima, agora na íntegra:
Não podemos deixar de mencionar o fato de que nesta edição resgatamos a tradição do Vale-Livro, e constituímos um acervo de obras diversificadas e com qualidade editorial comprovada, o que aperfeiçoa a experiência de visita à Feira, tanto para os alunos quanto para os professores.
Logo, perceber a intolerância disfarçada de “valores morais” ou “valores religiosos” é bastante preocupante, principalmente quando estamos falando de uma comunidade local constituída por inúmeras etnias, origens e expressões religiosas, como é a comunidade iguaçuense.
Não é a primeira vez que este tipo de vozes obscuras se levanta e propaga difamações contra o trabalho da educação iguaçuense. Já fomos acusados de impelir nossos alunos em questões de gênero; já fomos acusados de manipular aplicações de avaliações e os resultados do IDEB…
E aos nossos acusadores sempre respondemos com temperança, com mais trabalho, mais engajamento e mais resultados.
Recentemente foram divulgados os resultados da Prova Brasil 2017. Foz do Iguaçu, graças à dedicação incontestável de seus professores, figura mais uma vez entre as melhores notas do Paraná nesta avaliação – 1º lugar entre os municípios com mais de 200.000 habitantes.
É um resultado considerável, fruto de um trabalho sério, honesto e preocupado com o pleno desenvolvimento da criança em todas as suas habilidades e potencialidades.
Diante deste cenário, dizer que a Feira do Livro e suas atividades são prejudiciais à criança é, no mínimo, uma atitude covarde, mentirosa e mal intencionada, que busca mais uma vez utilizar a boa fé e a preocupação genuína das famílias para constituir um ambiente de caos e aflição, lançando dúvidas sobre o trabalho abnegado dos professores e demais profissionais envolvidos no evento, tudo isso a serviço de interesses obscuros e, certamente com viés politiqueiro.
Não vamos permitir que essas mentiras prevaleçam!
Venha visitar a Feira do Livro, e participar desta imersão cultural proporcionada em cada ambiente.
Venha viver as experiências culturais e a literatura viva pulsante em cada espaço.
Venha dar oportunidade à sua criança de manipular e escolher o livro que ela levará para casa, incentivando e desenvolvendo o gosto e hábito pela leitura. Venha viver a pluralidade e a convivência harmoniosa, porque ISSO É FOZ DO IGUAÇU!