Causos de Itaipu: Jiboia ou sucuri?

Desde a semana passada, o Não Viu? passou a publicar os causos de Itaipu contados pelos trabalhadores que construíram a, então, maior hidrelétrica do mundo

Ilustração do Livro Causos de Itaipu.

Causo publicado na edição de fevereiro de 1998 do Jornal de Itaipu, de autoria da redação da Divisão de Imprensa, e um dos escolhidos para fazer parte do livro Causos de Itaipu.

Jiboia ou sucuri?

No último dia 6 de fevereiro, o relações públicas Neri Cassel mostrava detalhes da Usina a dois americanos e um alemão, representante da Siemens. Quando estava no alto da barragem, na cota 225, um dos americanos começou a gesticular, apontando para a água, na área próxima à antiga escada de peixes, onde se acumulam enormes dourados, pacus e pintados.

– Look, look, it’s a snake! (Olhem, olhem, é uma cobra!)

Com seus olhos de lince, Cassel, veterano pescador e conhecedor dos mistérios do Rio Paraná, decretou:

– É uma jiboia que está comendo os peixes. E, no seu inglês impecável, traduziu para os gringos: “the snake is eating the fishes”, emendando para o alemão, que falava um português esfarrapado: “the jibóia nhac-nhac the fishes, ok?”

Ok.

Nisso, passa pela 225 o colega dele, Marco Antônio Gubert, com outro grupo de turistas, e é alertado sobre o ataque da “jiboia”. Cavaleiro, conhecedor das pradarias da fronteira no lombo de seu “Pingo”, Marco Antônio nem pestanejou:

– Não é uma jiboia, porque jiboia come cobra, não come peixe. Aquilo lá é uma sucuri e, pelos meus cálculos, tem uns 5 metros”, liquidou.

Normando Fiorentin, o motorista que estava no ônibus com Marco Antônio, diz conhecer jararaca e cascavel só pelo olhar das ditas cujas, imagine-se então corpulentas e reforças jiboias e sucuris. Ele ficou com Marco Antônio, garantindo que a cobra era uma sucuri – “mas tem uns 7 metros”.

A informação do “peixecídio” chega ao Centro de Recepção de Visitantes, que movimenta repórter, fotógrafo e cinegrafista, transmite à área de Meio Ambiente, responsável pela preservação da ictiofauna, e ao escritório de Curitiba. Em questão de minutos, já não era uma cobra, era o Butantã transferido para as águas do “Paranazão”.

Cassel, os americanos e o alemão resolvem então examinar “in loco” se era uma jiboia ou uma sucuri que atacava os peixes. Frustração e desânimo. Era uma rede de tela que se soltou da antiga escada de peixes e, pelo movimento das águas, parecia ser uma cobra abocanhando os peixes.

Foi complicado reverter a história. Mas tem gente garantindo que, depois de se empanturrar, a jiboia (ou seria uma sucuri?), mergulhou e foi para a margem paraguaia tomar um sol e descansar.

Mobilização geral por causa da suposta “sucuri” no dia 6 de fevereiro de 1998. Fotos: Jornal de Itaipu
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