A Vingança do Pequi
*Carlos Galetti
Determinadas coisas só acontecem com determinadas pessoas; e eu sou essa pessoa. Veja se você não concorda comigo?
Num lindo dia de sábado, saio pra ver os amigos e molhar a palavra, pois uma coisa era certa, o tempo pedia por uma loira gelada. Passei no Bar do Padilha que fica na rua que moro, tendo logo a boa notícia de que mais tarde haverá um frango caipira.
Tomo duas cervejas das pequenas, aliás a melhor invenção pra mim, já que bebo devagar e a grande esquenta. Bato um papo e saio pra falar com um amigo no bar da fofoca.
No destino não tem cerveja pequena, resolvo tomar uma grande, pensando que meu amigo me acompanharia. Diz que ainda não está bem para curar a ressaca. A cerveja esquenta e me enjoa, mas venço e derrubo a loiraça.
Volto para o bar do Padilha, o frango já deve estar pronto. Peço uma pequena pra voltar ao normal, enquanto vou saboreando e esperando o frango, bato papo com os amigos, jogando conversa fora.
Finalmente, o frango ficou pronto, todos começam a avançar para a panela, o consenso é que primeiro as mulheres e crianças, depois os barbados. Como sou um dos mais velhos, pra não dizer o mais velho, tenho a prioridade.
Me sirvo de uns três pedaços de frango e começo a desfrutar aquela delícia. Lembrando que é com a mão, nada de frescura, suja a mão e depois lava.
Resolvo que mereço mais um pedaço de frango, vou até a panela e tiro o lindo pedaço. Mas o que é isso? Olho uma batatinha, eu adoro. Boto no meu prato pra saborear.
Antes até do frango, dou uma dentada na minha batata. Aí começa o meu tormento, me contorço de dor, todos acorrem. Estou babando, de boca aberta, alguns pensando que estava infartando.
Até que o Padilha, o cozinheiro, olha no meu prato e vaticina, comeu o pequi que botei no tempero. Ambulância acionada, deslocamento com direito a sirene até o Costa Cavalcanti.
Atendimento de urgência, 04 (quatro) horas na cama do hospital, tirando espinho do pequi na pinça.
Quatro horas e muitos espinhos depois, sou liberado, derrotado e vilipendiado, me sentindo o mais infeliz dos mortais. Em casa, conto à família minha saga, tenho as palavras de incentivo e, depois de um banho reconfortante, vou deitar.
Mas sei que todos os espinhos ainda não saíram, ainda teria minha desdita prolongada.
Ainda teria duas seções na dentista, aquela minha heroína que causou extremo alívio. Foram algumas bandejas cheias de espinhos, que me trouxeram muita paz a cada visita, pois via a solução apresentando-se como possível.
Que sufoco! Determinadas coisas só acontecem com determinadas pessoas.
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.