Tempos gelados
*Por Carlos Galetti
Alguém por favor me diga, como dormir neste inverno? Deve ter ciência especial, tipo aquelas de brasileiros que são chamados para a Nasa.
Não é o número de cobertas, mas como posicioná-las. Entretanto, reside aí um óbice, seria o ideal se não nos virássemos durante o sono. A cada virada altera-se todo o processo, temos que recolocar a coberta, cobrindo aquelas entradas de ar frio nos lugares mais inconvenientes.
A atividade sexual que nesta fase da vida já é algo bastante trivial, nem pensar neste frio.
Tudo isso vai valer um certo despertar, nova acomodação do corpo na posição alterada, um Deus nos acuda!!
A atividade sexual que nesta fase da vida já é algo bastante trivial, nem pensar neste frio. Mas isto é evitável; agora, e quando, no meio da madrugada, temos o indecoroso convite para uma micção? Adiamos o máximo possível a aceitação, mas lá num momento temos de nos render aos revolucionários apertos “bexigais”.
Levantamos, segundo o processo dos três passos. Vejo que você não conhece o processo. Consiste em levantar em três tempos, primeiro os pés para fora da cama, segundo senta na cama e, por último, levanta. Para cada fase cerca de três minutos. Já foram nove minutos e você a mercê daquele frio, mas necessário para quem já é velhinho. Tá pensando que é só entrar na frente na fila do banco?
Voltamos à cama, para iniciar todo um processo, pois a cama estará fria, teremos que buscar nova posição
Agora vamos ao banheiro, já tinha me esquecido o porquê estava levantando. Evitando dar uma topada no pé da cama, chegamos ao banheiro, onde teremos que sentar no vaso, pois nessa idade já não dispomos de tão boa pontaria. Aliviado?
Voltamos à cama, para iniciar todo um processo, pois a cama estará fria, teremos que buscar nova posição, colocando a coberta estrategicamente cobrindo todas as entradas de ar. Se tivermos sorte, dentro de poucos segundos conciliaremos o novo sono.
Segundo os entendidos, temos passado os piores invernos dos últimos anos, eu que aqui estou desde 99, confesso que só senti inverno tão rigoroso no primeiro ano que cheguei. Mas dizem que a primeira vez a gente nunca esquece.
O fato é que o inverno está me maltratando. Esse pobre carioca, que chega a ficar antissocial, vai nas reuniões, fala pouco, pois até parece que esfria mais quando falo. Na hora de despedir, dou até logo e vou correndo para o carro, colocando o ar quente.
Sair da cama cedo nem pensar, minha mulher está chateada, pois quer caminhar e eu não estou nem aí.
Fazer caminhada está um sacrifício, já que não consigo arrastar toda a roupa que coloco para o exercício. Sair da cama cedo nem pensar, minha mulher está chateada, pois quer caminhar e eu não estou nem aí. A esteira lá em casa já virou cabideiro.
Perdoem o desabafo, mas carioca se desespera com o frio, questão de incompatibilidade, frio pra lá e nós pra cá. Noutro dia recebi uma ligação de um amigo do Rio, dizia que estava morrendo de frio, a temperatura lá era de 18 graus. Eu tripudiei, 18 graus aqui é verão. Estou mais aclimatado, 20 eu aguento até sem camisa.
Agora vou hibernar, acordo só no verão. Por favor me deixem dormir, consegui uma posição legal, não está entrando vento. Hummmm!!!
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.