Mesmo em meio às perspectivas econômicas desafiadoras da China e à elevada taxa de desemprego juvenil, a tendência ganha força, refletindo o esgotamento e a insatisfação generalizados com o mercado de trabalho.
Os convites para essas festas frequentemente expressam desejos de escapar da amargura, revelando a profunda insatisfação de muitos jovens trabalhadores.
A tendência das festas de demissão tornou-se proeminente nas redes sociais chinesas este ano, coincidindo com a fase pós-Covid e as consequências econômicas e sociais. A maioria dos participantes, na faixa dos 20 anos, cita diversos motivos para desistir, incluindo salários baixos e esgotamento.
De acordo com dados da rede Maimai, o equivalente chinês do LinkedIn, 28% dos 1.554 funcionários pesquisados de janeiro a outubro de 2022 pediram demissão no referido ano. A taxa dobra para aqueles que planejam desistir, evidenciando uma mudança nas atitudes em relação ao emprego.
Essa tendência ecoa o fenômeno da “Grande Renúncia” nos Estados Unidos, onde quase 50 milhões de pessoas deixaram seus empregos entre 2021 e 2022. Embora o movimento esteja diminuindo nos EUA, na China, parece estar apenas começando.
Os jovens chineses enfrentam altos níveis de desilusão e insatisfação, resultantes de anos de competição acirrada desde a infância, culminando em desafios na hierarquia empresarial. Especialistas alertam que essa tendência pode agravar as preocupações com a economia chinesa, considerando a queda na taxa de natalidade e a redução da força de trabalho, fatores críticos para o crescimento futuro.
Desde a escola, os jovens chineses competem intensamente, com anos de tutoria privada e o estressante vestibular “gaokao”. Essa pressão desde cedo contribui para níveis elevados de exaustão e ressentimento quando esses jovens entram no mercado de trabalho.
A crescente desconexão entre a educação recebida e as oportunidades de emprego disponíveis também contribui para a insatisfação. Embora a China tenha construído um extenso sistema educacional, muitos trabalhadores se veem “superqualificados” para seus empregos, levando a uma série de problemas sociais, incluindo baixa satisfação no trabalho.
A inadequação no mercado de trabalho pode ter implicações de longo prazo para a economia chinesa, já que enfrenta desafios relacionados à queda da taxa de natalidade e ao envelhecimento da população. A preocupação é que os jovens desencantados possam abandonar permanentemente a força de trabalho, agravando ainda mais a escassez de trabalhadores.
Apesar das incertezas, muitos jovens que abandonaram seus empregos buscam novas oportunidades em setores diferentes. Essa dinâmica em evolução destaca as mudanças nas aspirações e prioridades dos jovens chineses em relação ao trabalho, com uma busca crescente por significado e propósito em suas carreiras.